A Ipomoea batatas,
ou batata doce, como a chamam por aí, vem ganhando cada vez mais espaço na
dieta de muitos brasileiros, sendo um alimento tipicamente consumido no Norte e
Nordeste do Brasil. Para os marmiteiros e marombas de plantão, assim como para
as pessoas que visam apenas ter uma dieta mais saudável ou com objetivo de
perda de gordura, seu índice glicêmico é o principal fator que a torna item
indispensável da dieta.
Mas que tal discutir mais profundamente sobre esse
alimento, utilizando argumentos científicos para comprovar (ou não) se ela tem tudo isso
que dizem por aí?
ENERGIA E ÍNDICE GLICÊMICO
A batata doce é um alimento fonte de carboidratos, portanto,
fonte de energia. O que a tornaria um aliado da dieta seria seu índice
glicêmico (IG), que é a velocidade na qual a glicose no sangue aumenta depois
do consumo de uma determinada quantidade de carboidrato de um alimento, e isso
comparado à mesma quantidade de carboidrato do pão ou na forma de glicose. Quando o alimento possui um alto índice
glicêmico, após você come-lo ocorre uma alta taxa de oxidação da glicose,
causando, entre outros fatores, diminuição da oxidação de lipídeos e acúmulo de
triglicerídeos no tecido adiposo.
Falando em português claro, o consumo
constante de carboidratos de alto índice glicêmico pode levar ao aumento das
gordurinhas indesejáveis, além de contribuir para a ocorrência de doenças
crônicas, como obesidade e diabetes. Isto devido ao estímulo de liberação de
picos de insulina, que podem levar o organismo à resistência insulínica. Além
disso, são alimentos incapazes de promover saciedade duradoura, devido à uma
queda brusca de glicemia que ocorre após o pico glicêmico... Ou seja, tudo o que
você não quer.
Visto que a batata doce possui índice glicêmico considerado
entre baixo e médio (em estudos realizados, seu IG variou entre 44 a 78),
é um alimento que auxilia numa dieta com objetivo de perda de gordura e
controle de glicemia. Em relação ao execício físico, uma refeição com batata
doce é aconselhável no pré-treino, pois evitaria uma hipoglicemia de rebote,
ocorrente em casos de refeições antes do exercício com carboidratos de alto IG.
Dependendo do carbo ingerido, o pico de insulina varia entre 15 a 40 minutos.
Desta forma, um exercício iniciado com altos níveis de insulina circulante estimularia
uma alta captação de glicose, seguida de uma diminuição brusca dda glicemia
ainda na fase inicial do treino, o que prejudicaria o desempenho físico. Um
carboidrato de baixo IG levaria a uma liberação lenta de insulina, mantendo a
glicemia mais baixa e causando saciedade por mais tempo.
Entretanto, vale ressaltar que muitos fatores interferem no
IG de um alimento, como a presença de fibras e lipídeos na composição e a
variedade do alimento, sendo possível que os tipos de batatas doces variem seus
IGs entre si. Portanto, deve-se levar em consideração não só o IG isolado do
alimento, como a carga glicêmica de toda a refeição. Uma prato bonito, com
proteínas, fibras e bons lipídeos ajudam bastante a diminuir o IG de um
alimento isoladamente; além disso, se levarmos em consideração as calorias, a
batata doce é um alimento mais energético do que a crucificada batata inglesa,
por exemplo. Portanto, porcionar a QUANTIDADE ingerida também merece atenção!
A RECEITA DO MAROMBA?!
Em relação à definição muscular, são muitos os boatos que
garantem uma grande contribuição da batata doce nesse quesito. Aí quando você
pergunta o porquê, ninguém sabe te dizer. O fato é que, para o ganho de massa
muscular, além de exercício físico, é necessário uma oferta de energia
adequada, ou seja, um BOM aporte calórico.
E, como os carboidratos são a
principal fonte energética de uma dieta balanceada, seu consumo adequado
pouparia a proteína ingerida para que esta não seja utilizada para obtenção de
energia, e sim para, além de desempenhar suas funções vitais no organismo,
participar da síntese muscular na hipertrofia. Dessa forma, utilizar batata
doce como fonte de energia ajuda a ganhar músculos, assim como outros alimentos
ricos em carboidratos.
BATATA DOCE: FONTE DE VITAMINA A?
Quando comparada aos seus parentes, como a batata inglesa,
mandioca ou cará, certamente a batata doce apresenta maior quantidade de
vitamina A. Entretanto, é importante ressaltar que os principais alimentos
fonte de carotenoides (que são precursores de vitamina A, ou seja, podem se
“transformar” nesta vitamina) são os vegetais de cor amarelada, laranja e folhas
verde escuro. Portanto, cenoura, manga, abóbora, espinafre cozido etc, são
alimentos que apresentam maior valor de vitamina A.
A batata doce possui
vitaminas do complexo B, cálcio, ferro, fósforo... Mas, ao se tratar de fonte
de um nutriente específico, se destaca principalmente pela sua quantidade de
potássio.
Para finalizar, é claro que batata doce é uma boa fonte de
carboidratos, principalmente numa dieta para praticantes de atividade física.
Entretanto, é necessário que todos os outros nutrientes da dieta estejam
adequados, e, para isso, o acompanhamento de um nutri é essencial.
Além disso, variar no cardápio é muito
importante! Pesquise (em fontes confiáveis) sobre alimentos, seus índices
glicêmicos, possíveis associações com outro alimento para diminuir o IG etc. Batata doce é gostosa e versátil, visto que você pode come-la cozida, assada, em forma de purê, em tortas... Mas consumi-la todos os dias torna sua dieta monótona e fechada. Fala sério, frango com batata doce todo santo dia... Não dá, né ;)
TEXTOS DE REFERÊNCIA:
Jenkins
DJA, Wolever TMS, Taylor RH, Barker H, Fielden H, Baldwin JM, et al. Glycemic
index of foods: a physiological basis for carbohydrate exchange. Am J
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São Paulo: Sarvier, 2002. 1009p
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Miller, JCB. International table of glycemic index and glycemic load
values: 2002. Am J Clin Nutr. V.75, p 5-56, 2002.
Jeukendrup
AE ,Killer SC. The Myths Surrounding Pre-Exercise Carbohydrate Feeding. Ann
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UNICAMP. TACO - Tabela Brasileira de Composição
de Alimentos. 4 ª edição revisada e ampliada. Campinas, SP: UNICAMP, 2011
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